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Poesias
Poesias

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O entardecer

By : Ele não está afim de você

 

A folha seca que cai lentamente

Sem rumo aparente

Desvia da moça sorridente

Que com seus olhos carentes

Aclama por uma paixão ardente

 

Seus lábios secos

Suas mãos  úmidas e geladas

Sua aparência sem vida apagada

Aclama por uma salvação

Seu  eu interior

Da mais pura indignação

Rejeita o que seria a solução

Suas lagrimas agora caem

E seus medos começam a despencar

O que seria uma vida sem amor?

Vendo as paisagens repentinas

Nunca antes percebidas

Começa a correr desenfreada

Sobe sobre o morro encantada

E a alguns passos do céu

Surge em seus olhos de mel

A esperança tão desejada

Marcada e julgada

Deixa seu rastro de memória

Junto com suas histórias

E  ao som do mar

Com o canto das andorinhas

Ela vive seu primeiro momento

Sentada contra o vento

 

O tempo se passa, e as horas se vão.

O entardecer virá escuridão

E leva com ele sua solidão

 

O que seria capaz de penetrar?

Na essência daquele momento

Que a fez despertar?

O gigante que nela habitava

Agora acordava

E ela encontrou em sua rápida morada

A salvação para sua jornada.

 


 te

 

Amor é fogo que arde sem se ver;
É ferida que dói, e não se sente;
É um contentamento descontente;
É dor que desatina sem doer.

É um não querer mais que bem querer;
É um andar solitário entre a gente;
É nunca contentar-se de contente;
É um cuidar que se ganha em se perder.

É querer estar preso por vontade;
É servir a quem vence, o vencedor;
É ter com quem nos mata, lealdade.

Mas como causar pode seu favor
Nos corações humanos amizade,
Se tão contrário a si é o mesmo Amor?

Luís de Camões


 

te

O Amor

O AMOR, quando se revela,
Não se sabe revelar.
Sabe bem olhar p'ra ela,
Mas não lhe sabe falar.

Quem quer dizer o que sente
Não sabe o que há de dizer.
Fala: parece que mente...
Cala: parece esquecer...

Ah, mas se ela adivinhasse,
Se pudesse ouvir o olhar,
E se um olhar lhe bastasse
P'ra saber que a estão a amar!

Mas quem sente muito, cala;
Quem quer dizer quanto sente
Fica sem alma nem fala,
Fica só, inteiramente!

Mas se isto puder contar-lhe
O que não lhe ouso contar,
Já não terei que falar-lhe
Porque lhe estou a falar...

Fernando Pessoa


te

Soneto de separação

De repente do riso fez-se o pranto
Silencioso e branco como a bruma
E das bocas unidas fez-se a espuma
E das mãos espalmadas fez-se o espanto.

De repente da calma fez-se o vento
Que dos olhos desfez a última chama
E da paixão fez-se o pressentimento
E do momento imóvel fez-se o drama.

De repente, não mais que de repente
Fez-se de triste o que se fez amante
E de sozinho o que se fez contente.

Fez-se do amigo próximo o distante
Fez-se da vida uma aventura errante
De repente, não mais que de repente.

Vinicius de Moraes