O entardecer
By : Ele não está afim de você
A folha seca que cai lentamente
Sem rumo aparente
Desvia da moça sorridente
Que com seus olhos carentes
Aclama por uma paixão ardente
Seus lábios secos
Suas mãos úmidas e geladas
Sua aparência sem vida apagada
Aclama por uma salvação
Seu eu interior
Da mais pura indignação
Rejeita o que seria a solução
Suas lagrimas agora caem
E seus medos começam a despencar
O que seria uma vida sem amor?
Vendo as paisagens repentinas
Nunca antes percebidas
Começa a correr desenfreada
Sobe sobre o morro encantada
E a alguns passos do céu
Surge em seus olhos de mel
A esperança tão desejada
Marcada e julgada
Deixa seu rastro de memória
Junto com suas histórias
E ao som do mar
Com o canto das andorinhas
Ela vive seu primeiro momento
Sentada contra o vento
O tempo se passa, e as horas se vão.
O entardecer virá escuridão
E leva com ele sua solidão
O que seria capaz de penetrar?
Na essência daquele momento
Que a fez despertar?
O gigante que nela habitava
Agora acordava
E ela encontrou em sua rápida morada
A salvação para sua jornada.
Amor é fogo que arde sem se ver;
É ferida que dói, e não se sente;
É um contentamento descontente;
É dor que desatina sem doer.
É um não querer mais que bem querer;
É um andar solitário entre a gente;
É nunca contentar-se de contente;
É um cuidar que se ganha em se perder.
É querer estar preso por vontade;
É servir a quem vence, o vencedor;
É ter com quem nos mata, lealdade.
Mas como causar pode seu favor
Nos corações humanos amizade,
Se tão contrário a si é o mesmo Amor?
O Amor
O AMOR, quando se revela,
Não se sabe revelar.
Sabe bem olhar p'ra ela,
Mas não lhe sabe falar.
Quem quer dizer o que sente
Não sabe o que há de dizer.
Fala: parece que mente...
Cala: parece esquecer...
Ah, mas se ela adivinhasse,
Se pudesse ouvir o olhar,
E se um olhar lhe bastasse
P'ra saber que a estão a amar!
Mas quem sente muito, cala;
Quem quer dizer quanto sente
Fica sem alma nem fala,
Fica só, inteiramente!
Mas se isto puder contar-lhe
O que não lhe ouso contar,
Já não terei que falar-lhe
Porque lhe estou a falar...
Soneto de separação
De repente do riso fez-se o pranto
Silencioso e branco como a bruma
E das bocas unidas fez-se a espuma
E das mãos espalmadas fez-se o espanto.
De repente da calma fez-se o vento
Que dos olhos desfez a última chama
E da paixão fez-se o pressentimento
E do momento imóvel fez-se o drama.
De repente, não mais que de repente
Fez-se de triste o que se fez amante
E de sozinho o que se fez contente.
Fez-se do amigo próximo o distante
Fez-se da vida uma aventura errante
De repente, não mais que de repente.